Djalma Santos Silva (Didi), nasceu em Itapetinga no dia 08 de setembro de 1937. Viúvo, é pai de seis filhos: Rosimeire, Alécio, Alane, Adiano, Adroaldo, Alexandre e avô de cinco netos. Veterano que nasceu em uma casa nas proximidades da Alameda Rui Barbosa, começou a jogar bola aos 17 anos, pelo Flamenguinho de Juarez. “Minha posição era lateral direito. Ganhamos muitos títulos pelo Flamenguinho, um time bom, formado por garotos escolhidos a dedo”, comentou o desportista, que passou depois 25 anos envergando a camisa do Ipiranga. “Também ganhei título por este time. Me recordo de bons amigos desta época: Manoel Neto, Hélio, Jilvan, Veredinha, Santo, Roberval Coelho, Pascoal, entre outros”.
Didi também fez parte do escrete do Botafogo, que era tido como um dos melhores times da cidade, coordenado por Santo Carvalho e Mussi Dib. “Era por volta de 1957 e os times que tínhamos na cidade eram potentes, formados por bons jogadores. Não havia ainda a formação da seleção, mas cada time tinha um peso bem que parecido com o de uma seleção”, frisou, enfatizando que o futebol era a diversão da rapaziada da sua época de adolescência. “A cidade tinha os campos de pelada e a gente se reunia para jogar. Eu, Durvalino, Alemão, Soires, Ívan, Sabará, Ari, enfim, não ficávamos devendo aos outros times quando a gente se juntava”, comentou Didi Seleiro.
Ele recorda que um dos primeiros campos de pelada da cidade foi na Concha Acústica. Em seguida, na Vila Riachão e no local onde hoje está o Ginásio Agro Industrial. Em seguida o ex-prefeito José Vaz Espinheira construiu o atual estádio municipal. “Joguei em todos eles, mas a maior parte do tempo foi no campinho do Industrial, começando pelo Flamenguinho, Ipiranga, Botafogo, Vasco da Gama, entre outros”.
Seleiro de profissão, Didi também se profissionalizou no conserto de bolas e chuteiras. “Antigamente as bolas eram de couro e forradas de pano, elas pesavam mais que as de hoje, que são de sintético. As de antigamente quando ficavam encharcadas, aumentava bastante o peso. Aqui na cidade tinha Dão dos Orixás que fazia bolas de couro. Eu só sabia consertar, colocar os gomos, colar, mas ele era um exímio fabricante das pelotas de couro, que deviam pesar cerca de 500g ou mais. E se estivessem molhadas, o atleta que resolvesse cabecear tinha que ser firme, senão caia de costas”.
Didi achava as bolas de couro como melhores para a prática do futebol, que garantia mais velocidade e pontaria para os goleadores.
Do tempo em que as chuteiras eram de birro de sola, Didi comenta que hoje o jogador tem todo o conforto possível, em comparação ao seu tempo. “As travas da chuteira eram atravessadas, os birros de sola e ainda tem a curiosidade das bolas, que por serem de couro, vinha ainda com uma correia, enfiadas ao estilo de cadarço de sapatos”.
Jogador por Macarani
Na vizinha cidade, Didi chegou a jogar pelo Atlético, ao lado do jogador Chico Papo, que também era seleiro. “Chico Papo era excelente com a bola. Ele ficou pouco tempo no juvenil e foi direto para o time titular por suas qualidades de jogador. Era conversador, mas jogava muito fácil. Tinha também Isaque, Dete, Astor Badaró que era bom zagueiro e acho que o de menos qualidade no time era eu”, comentou, falando da saudade dos tempos do futebol também em Macarani.
A posição em campo
Lateral direito, comenta Didi que a função era bastante exigida dentro de campo. “Naquela época a gente marcava mais do que atacava. O lateral hoje vai tipo ponteiro direito, bem diferente do que fazíamos. Eu era marcador nato, jogava na bola, mas era duro, perturbava o adversário”, disse o veterano, que em sua carreira teve apenas um cartão vermelho, depois de brigar com um xará do time do Botafogo. “Briguei mesmo, trançamos no tapa e acabou gerando a expulsão”.
O veterano lateral se recorda que difícil mesmo era jogar contra o time em que estivesse o jogador Pirão, de Macarani, que era bastante habilidoso, quando podia deixava o lateral na rua. “Ele era bastante versátil, dava trabalho pra gente e além do mais era malvado. Me recordo que em uma dividida descontei uma pegada que ele tinha me dado e por causa disto ele teve que sair do jogo, foi mal, mas ele mereceu”, comentou.
O roupeiro da seleção
Ao se afastar do gramado, Didi continuou ligado ao futebol tendo se transformado no roupeiro da seleção de Itapetinga durante muitos anos. Se orgulha de ter conhecido Garrinha, o mito do futebol brasileiro, quando veio jogar pela seleção de Itapetinga em um jogo amistoso. “Garrincha era muito simples, brincou muito comigo, agradeceu o uniforme quando eu o entreguei e todos estavam embevecidos com a presença dele entre nós. Nesta hora eu até esqueci que ele era Botafogo no Rio de Janeiro e eu um Fluminensista doente. Ele era um ídolo, não era só do Botafogo, era do mundo”.
Didi ainda registrou que neste mesmo jogo estava presente também o jogador Piolho, de grande fama na região naquela época. “Eu o vi jogar várias vezes, era realmente muito bom de bola, habilidoso, tinha um chute fortíssimo, jogava fácil, dava gosto de a gente ver”, registrou Didi, que jogou até os 40 anos.
Se lembra dos demais roupeiros que a seleção já teve: em 1966 Roxo e Diel ficaram como roupeiros e em 1967 ele assumiu a posição. “Eu fique até o primeiro título do intermunicipal, acho que não estava mais no bicampeonato. A minha lei era seca com os meninos, se não entregasse o material eu ia atrás a todo custo, era da Liga e tinha que ser devolvido”.
“A gente tinha uma tarefa que exigia muito cuidado. Eram 24 pares de meia, 24 shorts e a mesma quantidade de camisas que eu levava para uma lavadeira na Rua Barão do Rio Branco para lavar e no outro dia, na hora do treino, já estava tudo arrumadinho para entregar a cada um. E eu era enjoado, queria que todos tivessem responsabilidade com os uniformes igual eu tinha”.
Para Djalma Santos Silva, sua maior alegria no futebol foi ter feito três gols contra o Independente, quando ele jogava pelo Ipiranga. “Foi um momento bom aquele, um jogo excelente, fiz gols de rebote, uma alegria tremenda naquele dia”, comentou Didi, lamentando que os atuais dirigentes do futebol local não tenham por ele a consideração pelo trabalho de roupeiro que fez durante muitos anos. “Me recordo de Carlinhos, dr. Renato, Luninha, Zequinha, Kabelo, Seu Valmir, Nelson Calango, enfim, dirigentes que sempre me consideraram e me enxergavam como uma peça importante também do futebol e hoje infelizmente a gente não vê mais isto. Notamos que pessoas que nunca fizeram nada pelo futebol e se aventuram a dirigir a Liga ou coisa parecida, não tem trato com quem já contribuiu para o bem do futebol de Itapetinga. Nunca mais fui ao campo, me chateei com isto”, confessou Didi, que disse nunca ter sido inclusive lembrado em homenagens ou coisa parecida, nem convidado para a tribuna de honra.
Didi lamenta que seu filho Alécio não tenha seguido a carreira de jogador, pois era tido como bom zagueiro. E um irmão dele, Toim Zoim, chegou a ser destaque como artilheiro da época pelo Flamenguinho de Juarez.
Ao finalizar, destacou Nelson Calango como o melhor dirigente do futebol itapetinguense e deixou um conselho aos jogadores de hoje: “Tentem jogar não pelo amor ao dinheiro, mas sim à camisa. Sei que há ainda muitos bons meninos jogadores na cidade, precisam se atentar para a qualidade que têm, não focar apenas o que vão receber pelo time para jogar”, finalizou Didi, que mesmo aposentado ainda trabalha na selaria de Nelson, na Marechal Deodoro.
JORNAL DIMENSÃO DE ITAPETINGA