quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Mineiros criam a primeira cerveja de cana do mundo


Terceira bebida mais popular do mundo - atrás apenas da água e do chá -, a cerveja vai ganhar uma cara tradicionalmente brasileira. Neste sábado, a cervejaria mineira Wäls, comandada pelos irmãos José Felipe Carneiro, 25, e Tiago Carneiro, 29, vai dar um toque tupiniquim à popular fórmula de água, malte de cevada, lúpulo e levedura, e acrescentar cana-de-açúcar na produção da “gelada”. É a primeira tentativa no mundo de inserir a matéria-prima da cachaça no processo de fermentação da cerveja.
O primeiro lote da produção da cerveja de cana, que chegará ao mercado com o nome de Saison de Caipira, estará sob a responsabilidade de uma das maiores autoridades na bebida do mundo. Garrett Oliver, da norte-americana Brooklyn Brewery, desembarca em Belo Horizonte no sábado para dar o pontapé inicial na produção da "cerveja mais brasileira de todas".
Mas o lote inicial será apreciado por poucos. Segundo José Felipe Carneiro, responsável pelo departamento de produção da Wäls, serão fabricados apenas 2 mil litros da fina cerveja de cana. “Aqui, nós não fazemos cerveja. Fazemos obra de arte”, diz José Felipe.
A projeção é de que a garrafa de 375 ml chegue ao consumidor final em dezembro, com o preço de R$ 18. A Saison de Caipira estará à venda nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Distrito Federal e na cidade de Goiânia.
Mas, para quem perder não der nem um gole nos 2 mil litros iniciais, a Wäls tem um alento. Passado o primeiro lote, a cervejaria mineira pretende manter a Saison de Caipira no portfólio, com uma produção de até 20 mil litros por ano. A Wäls estuda, inclusive, a possibilidade de exportar a cerveja de cana.
No gosto "gringo"
Para o sommelier de cervejas André Cancegliero, organizador do Beer Experience, a Saison de Caipira tende a cair no gosto, principalmente, dos norte-americanos. "Eles gostam dessas adições bem diferentes."
No mercado brasileiro, o especialista enxerga uma oportunidade para a cerveja de cana, mas diz que é "muito difícil acertar a mão" no primeiro lote de produção. "Será uma cerveja bem forte, bem doce", acredita. 
"É uma cerveja de experimentação. Ninguém vai sentar no bar para tomar uma caixa dela", completa. 
Produção à mineira
Para dar à cerveja o toque mais brasileiro da cachaça, a Wäls fechou uma parceria com o grupo mineiro Vale Verde, responsável pela produção de uma das cachaças mais tradicionais do país. Eles fornecerão à cervejaria um lote de cana-de-açúcar especial, com um dos melhores “brix” do mercado. O “brix” é um índice que mede o teor de sacarose da cana, que, no caso da Vale Verde, chega a 23%.
É este açúcar da cana da Vale Verde que será utilizado no processo de fermentação do caldo da Saison de Caipira. Para completar o caráter nobre da cerveja, Garrett Oliver promete trazer dos Estados Unidos um fermento especial utilizado nas bebidas da Brooklyn para dar o seu toque especial à cerveja de cana.
Segundo José Felipe, a Wäls investiu R$ 80 mil na produção do primeiro lote da bebida. Até o processo de moagem da cana será diferenciado. A cervejaria comprou um moedor de cana especial que será utilizado somente para a fabricação da cerveja. No primeiro lote, a Vale Verde vai fornecer 1 tonelada de cana para a Wäls. “A ideia é que essa cana se transforme em aproximadamente 400 litros de caldo.”
Esse caldo nobre será utilizado no processo de fermentação da cerveja. José Felipe explica que a bebida será no estilo Saison, típico do interior da Bélgica, que dá uma “certa liberdade” na manipulação dos ingredientes. As cervejas do tipo Saison tem aromas frutados, leve acidez e alta carbonatação.
O resultado da primeira cerveja de cana, claro, ainda é uma incógnita. Mas a expectativa é grande. “Esperamos um aroma muito frutado”, diz José Felipe. Mas, apesar do toque doce do caldo-de-cana, o teor alcoólico da Saison de Caipira deverá ficar entre 6% e 8%, acima dos 4% da cerveja tradicional.
Como, nas palavras de José Felipe, os lotes de cervejas finas da Wäls “evaporam em uma semana”, vale a recomendação: aprecie com moderação.

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