quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Kelly Slater se consagra 11 vezes campeão do mundo


Seria inimaginável se não fosse Slater. O careca mais famoso do surf é 11 vezes campeão mundial. Mas todo mundo já esperava por isso. Kelly venceu Daniel Ross no round 3 em São Francisco e conquistou o título por antecipação. Ele ainda pode vencer a etapa.
VÍDEO: O 11º título de Slater

Logo na primeira etapa de 2011 ele mostrou que ainda estava a fim. Venceu na Gold Coast. Ao ficar em 5º em Bells, 13º no Brasil e não comparecer em J-Bay pensei até no que ele havia me dito depois do décimo título em Porto Rico: “Gostaria de levar uma vida normal, assistir TV depois da janta com minha namorada. Ter um filho...”, parecia apto a mudar de vida. Pode ter tentado, mas... Nada disso. Venceu no Tahiti, foi para a final em NY e devolveu a derrota para Owen no terceiro confronto seguido. Ele se alimenta disso. Venceu em Trestles, um de seus picos prediletos, onde aprendeu a surfar ondas de verdade. 
Com ou sem lycra. O melhor surfista detodos os tempos.Foto: ASP/Kirstin
Ele desenvolveu seu surf ao ponto de entender melhor que qualquer outro ser humano como funcionam as competições. Quinto na França e segundo, atrás de Mineirinho, em Portugal. Para variar sua aura de campeão parece levar o resto dos mortais a entrarem num jogo onde, no final, quase fácil, ele vence. Foi assim ano passado, foi assim em São Francisco. Ele só precisava passar o 3º round. Perder ali, sim, seria muito estranho.
Na vida dos predestinados parece que as coisas são sempre épicas. Como hoje. Slater venceu seu 10º título em 2010 e agora seu 11º título no dia em que Andy Irons, seu maior oponente, morreu. Tudo parece ter um sentido além da compreensão. Coisa planejada pelo universo. Mas, quando tudo começou seria impossível dizer que décadas depois, Slater seria um dos maiores mitos do esporte, não só do nosso, mas de qualquer um.
“A vida no lar Slater não era perfeita, e, enquanto o casamento dos seus pais desmoronava e seu pai lutava contra o alcoolismo, Kelly fugia para a praia, onde encontrava paz em cima da sua prancha. Ele devorava revistas de surf, sentava hipnotizado diante de filmes de surf e venerava os deuses do esporte, que se jogavam nas paredes de água ameaçadoras do North Shore do Hawaii e de outras partes do mundo. Slater nunca imaginou ir além das ondas do litoral da Florida, mas sua vontade insaciável por competições e sua fantástica – quase nata – compreensão física do surf predestinou-o a surfar ondas muito maiores do que qualquer coisa que Cocoa Beach pudesse oferecer”. [Retirado do livro "Biografia de Kelly Slater – Pipe Dreams", escrito por Jason Borte]
Quando Kelly ainda tinha alguns fios de cabelojá fazia outros surfistas arrancarem os seus.Foto: ASP

INCOMPARÁVEL
Kelly enfrentou quatro gerações de surf. Desbancando seus ídolos, como Gary Elkerton, Pottz, Tom’s Curren e Carrol nos anos 90 para se tornar o mais jovem campeão mundial em 92. Desde então não parou mais de quebrar recordes. De confundir o mundo todo com táticas e técnicas que iam além das ondas. Pense em qualquer recorde, ele quebrou todos, tornando-se campeão mundial em 1994, 95, 96, 97, 98, 2005, 06, 08, 10 e novamente agora, como o campeão mais velho.
No trajeto exerceu influência sobre vários aspectos do esporte, dentro e fora do mar. Ajudou a mudar conceitos sobre pranchas e técnicas de surf. Levou a imagem do esporte a outro patamar participando do cenário hollywoodiano como quando participou da série Bay Watch. Namorou Pamela Anderson, Gisele Bundchen. Ameaçou a ASP com a idéia de fazer um circuito paralelo e quase obrigou os organizadores do surf profissional no mundo a reformularem o circuito. As coisas parecem acontecer como ele quer.
É como aquela onda que aparece no último segundo de bateria para lhe proporcionar outra vitória. Seu surf surge do empenho, dedicação a todo e qualquer detalhe do jogo, treino eterno, concentração máxima, atenção a tudo que acontece à sua volta. Também posso dizer que sua performance vem do coração, da mente, do espírito iluminado que o levou a esse estágio insuperável. Mas, no fim das contas, ele simplesmente tem o talento, a expertise e a irrevogável sina de ser o maior atleta de todos os tempos. Ele não consegue fazer outra coisa. Talvez seja uma praga às avessas.
Deixo aqui meu respeito incondicional ao “Rei do Surf”. Sei que nesses últimos dois anos ele leva as coisas de uma maneira mais feliz, relax, se é que isso é possível. Porém, manter a realeza é tarefa solitária, quase trocar a vida pelo título. Tudo tem seu preço. Para nós, diante do trono onde ele está sentado com sua prancha em punho, resta apenas a reverência. O agradecimento por ele nos proporcionar a possibilidade de vê-lo vencer como ninguém jamais fará novamente. Já tentaram compará-lo a Pelé, Michael Jordan, Jim Thorpe, Muhammad Ali... não há comparação possível. Prometo nunca mais chamá-lo de “Careca do Espaço”. Slater é O REI e ponto final.
ESPN

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