sábado, 8 de setembro de 2012

Sob vaias, Seleção vence a África do Sul


Time de Mano ganha por 1 a 0 em jogo fraco, mas perde torcida e Mano é chamado de burro. Gol de Hulk foi raro momento de trégua
Hulk entrou no segundo tempo e evitou vexame no Morumbi / Edu Saraiva/FolhapressHulk entrou no segundo tempo e evitou vexame no MorumbiEdu Saraiva/Folhapress
A expectativa maior era com a estreia do quarteto Oscar, Lucas, Leandro Damião e Neymar, que pela primeira vez foi escalada para jogar junto – em uma nova versão do “quadrado mágico” de Carlos Alberto Parreira, ainda que Mano descarte a comparação. Mas faltou magia e sobraram vaias.

Neymar foi um dos alvos preferidos da torcida, chamado de “pipoqueiro” em pelo menos três participações. Ao deixar o campo nos minutos finais de jogo, de cabeça baixa, ouviu mais vaias. Oscar também foi "homenageado". Já Mano não escapou do coro de “burro”, justamente quando sacou o são-paulino Lucas.

O gol de Hulk e uma tímida “ola” no segundo tempo foram os únicos momentos de trégua. Muito pouco para quem esperava sair do Morumbi com o “casamento” marcado.

Clima quente, jogo morno

Por volta dos sete minutos de partida, parte do público, provavelmente a parcela são-paulina, gritou o nome de Luis Fabiano. Era o primeiro sinal de que no processo da conquista da torcida pela Seleção, os brasileiros se fariam de difícil.

A primeira chance de gol saiu do lado sul-africano, pelo lado esquerdo. Gaxa, um dos mais acionados, tabelou e saiu na cara de Diego Alves, que fez a defesa em dois tempos. A resposta brasileira, que insistia em bolas longas, saiu somente aos 15. .Dedé subiu sozinho para cabecear após cobrança de falta, mas Khune fez bela defesa e jogou para escanteio e motivou o primeiro “uuhh” da torcida.

A primeira vaia não demorou a entoar pelo Morumbi. Aos 21 minutos, sem opções para a saída de jogo, a dupla de zaga e os laterais iniciaram uma improdutiva troca de passes, que acabou em um chutão para frente de David Luiz, lance prontamente vaiado pelo público. Pouco depois, o mesmo David atrasou uma bola para Diego Alves. A torcida chiou novamente.

O jogo se arrastava. Sob sol forte e encarando um adversário disposto, o time de Mano não conseguia criar chances. Oscar tinha pouco espaço e às vezes caíam muito à esquerda. A bola não chegava a Neymar e, quando o santista tinha alguma oportunidade, não conseguia finalizar. Os sul-africanos apostavam na correria de Tshabalala e nos erros da defesa brasileira. Aos 32, os Bafana Bafana perderam Ndlovu, substituído pelo gordinho Benni McCarthy, que saiu poucos minutos depois, contundido.

As chances de gol eram raras, e o público só quebrou o silencio para vaiar de novo. Aos 37, os sul-africanos, que tocavam a bola no campo de defesa em busca da hora certa de avançar, motivaram outra chiadeira no estádio.

Aos 41, uma inofensiva tabela entre Ramires e Marcelo, com posicionamento confuso em campo, foi atrapalhada pelo árbitro. A torcida se manifestou, mas dessa vez para a galhofa.

Neymar deu alguma esperança. Na única chance clara que teve, finalizou de frente para o gol, mas Khune defendeu e deixou o grito de gol entalado. E a paciência da torcida acabou antes do apito final. Pelo menos, foi com tom de humor: já nos acréscimos, o público ensaiou gritos de “olé” para a troca de bolas entre os sul-africanos.

Em seguida, com o fim da primeira etapa, veio a inevitável vaia. Desta vez impiedosa, quase em uníssono. O namoro ficava cada vez mais difícil.

Um pouco melhor

O segundo tempo começou mais movimentado, mas com a África do Sul partindo para cima. Em um lance de linha de fundo, a bola passou por Diego Alves e Dedé, ao tentar tirar, quase colocou para dentro.

Pouco depois, ao tentar responder, Neymar ficou na marcação sul-africana, mas sem falta. O atacante foi ao chão, e o árbitro nada deu. A torcida, então, entoou o coro de “pipoqueiro” para o santista.

Aos 10 minutos saiu a primeira chance brasileira. Oscar comandou o ataque e rolou para Damião pela esquerda. O atacante finalizou para as redes, mas do lado de fora. No lance seguinte, Neymar partiu sozinho costurando, mas chutou de longe, fraco, para a defesa fácil de Khune.

Os africanos responderam com Parker, que tabelou com Tshabalala e chutou de longe, passando perto do travessão.

Um pouco melhor que no primeiro tempo, o Brasil jogava mais ofensivo, com a marcação adiantada. As chances aumentaram, e a torcida deu sinais de que poderia deixar a vaias. Mas elas voltaram na substituição de Marcelo, em atuação pífia, que deu lugar a Alex Sandro. Mas a cada erro de Damião e Neymar no ataque, novos pedidos de Luis Fabiano.

Mano decidiu mexer de novo aos 18 minutos. Sacou Damião e Rômulo para lançar Hulk e o corintiano Paulinho. Dessa vez, sem vaia da torcida, que aos poucos desistia de vibrar e organizou uma “ola”.

Aos 24, Neymar cobrou falta com efeito, em direção ao ângulo, mas Khune voltou a fazer grande defesa. Aos 26, Hulk foi lançado por Neymar e girou para finalizar para fora.

Gritos de burro e de ‘gol’

Mano, poupado até este momento do jogo, ouviu os primeiros gritos de “burro” ao tirar o são-paulino Lucas para colocar Jonas. Foi a senha para a torcida se “despedir” do técnico com gritos de “Adeus, Mano”.

Mas o futebol é caprichoso, e o mesmo Hulk que irritava a torcida mesmo com poucos minutos em campo, aproveitou rebote dentro da grande área para finalizar de sem pulo e abrir o placar aos 29. Um golaço, para dar esperança de trégua e calar as vaias. Se o “namoro” já era impossível, a Seleção tentava ao menos diminuir a pressão.

O gol acabou animando torcida e time, que passou a incomodar mais. As mudanças de Mano deram resultado, e a equipe sul-africana acabou pressionada em seu campo de defesa. Mas os Bafana Bafana ainda conseguiram dar um susto aos 37, em cruzamento perigoso de Tshabalala interceptado por Diego Alves.

Os sul-africanos ainda tentaram o empate, mas faltava fôlego. A Seleção tentava nos contra-ataques, mas sem dar muito trabalho.

Aos 43 minutos, Neymar foi substituído e ouviu o que talvez foi a maior vaia da sua vida. Cabisbaixo, deu lugar a Arouca e, de fora do campo, presenciou os últimos minutos de jogo. E mais vaias.

Aplausos mesmo, só para o adversário. Irreverentes, sul-africanos acenaram para os torcedores e foram ovacionados. Enquanto isso, o sistema de som do Morumbi tocava a música de Gonzaguinha: "Eu sei que a vida podia ser bem melhor e será". Será?


FICHA TÉCNICA
BRASIL 1 X 0 ÁFRICA DO SUL
Local: Morumbi, São Paulo (SP)
Data-hora: 7/9/2012 - 15h45h
Árbitro: Nestor Pitana (ARG)
Auxiliares: Diego Bonfa e Gustavo Rossi (ARG)
Cartões Amarelos: Dedé e Hulk (BRA), Chabangu Gaxa, Khune e Dikgacoi (AFS)
Cartão vermelho: nenhum
Público/Renda: 51.538 público total/ R$ 3.929.765,00
GOL: Hulk, aos 28'/2ºT (1-0)

BRASIL: Diego Alves, Daniel Alves, Dedé, David Luiz e Marcelo (Alex Sandro, aos 15'/2ºT); Rômulo (Paulinho, aos 18'/2ºT), Ramires, Oscar e Lucas (Jonas, aos 26'/2ºT); Neymar (Arouca, aos 44'/2ºT) e Leandro Damião (Hulk, aos 18'/2ºT). Técnico: Mano Menezes.

ÁFRICA DO SUL: Khune, Gaxa, Sangweni, Khumano e Masenamela; Ndlovu (MacCarthy, aos 32'/1ºT e depois Parker, aos 42'/1ºT), Dikgacoi, Tshabalala e Furman (Mahlangu, aos 13'/2ºT); Serero e Chabangu (Letsholonyane, aos 10'/2ºT). Técnico: Gordon Igesund
Romulo Tesi, do Morumbi esportes@band.com.br

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