quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

De "saco cheio" do futebol, Ronaldo admite virar dirigente


Djalma Vassão/Gazeta Press
AGORA SÓ VAI JOGAR "PAUZINHO"
Ronaldo está perto de encerrar a carreira
Campeão mundial com a seleção brasileira nos Estados Unidos-1994, Ronaldo, 34 anos, está de "saco cheio" do futebol, a ponto de evitar conversar sobre o tema e acompanhar jogos na televisão. Nesta quarta-feira, no entanto, ele abriu uma exceção para criticar as condições de trabalho dos jogadores profissionais. De quebra, admitiu a possibilidade de virar dirigente após o final da carreira, programado para 2011.
"É muito chato ver jogo na televisão, mas o futebol é a minha paixão. Sinto isso porque estou há 16 anos como profissional, vivendo e respirando futebol. Estou um pouco de saco cheio", afirmou Ronaldo após participar do Footecon, fórum organizado por Carlos Alberto Parreira no Rio de Janeiro. "Em uma ocasião como essa, é importante debater os problemas da minha classe para tentar melhorar a organização", disse.
Ronaldo criticou intensamente o calendário do futebol brasileiro, pediu um período maior de férias e usou o Campeonato Paulista, primeira competição do Corinthians na próxima temporada, como exemplo. O Fenômeno acha o número de participantes do Estadual (20) excessivo e sugere a realização de um torneio eliminatório com os clubes do interior para encurtar a competição.
"O calendário prejudica muito no rendimento dos atletas. Os jogadores deveriam ser mais ouvidos em todos os aspectos. Afinal de contas, somos cobrados para dar o nosso melhor, para dar espetáculo sempre. A torcida quebra carro, ameaça e faz coisas absurdas. Ninguém protege o jogador. Teremos só 28 dias de férias antes de encarar uma temporada inteira até o dia 6 de dezembro", declarou.
Além de reclamar, Ronaldo fez um mea-culpa e admitiu que parte da responsabilidade pela situação é dos próprios jogadores de futebol. Ele citou exemplos de países nos quais os atletas costumam protestar e até paralisar o campeonato nacional em busca de melhorias. Para completar, criticou o trabalho do sindicato que representa a classe.
"Isso é muito culpa nossa, porque não somos uma classe unida. O sindicato não luta por nós. Eu, particularmente, não conheço ninguém do sindicato, ninguém nunca foi no clube perguntar a nossa opinião sobre qualquer coisa. Na Itália, na Argentina e na Espanha, os jogadores fazem greve até que tenham suas reivindicações atendidas. Temos que evoluir neste sentido e fortalecer o sindicato", afirmou.
Em um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ronaldo perguntou os motivos de os jogadores não contarem com aposentadoria, e usou sua influência para reivindicá-la. Na última segunda-feira, Carlos Eduardo Gabas, Ministro da Previdência, anunciou a criação de um fundo de pensão para atletas profissionais de futebol administrado pela Petros (fundo dos funcionários da Petrobras).
TITE: SEM CHORAR
O atacante Ronaldo classificou como exagero um Campeonato Paulista com 20 clubes. Já Tite, comandante do Fenômeno no Corinthians, prefere não lamentar o regulamento do torneio.
"A realidade é essa e nós temos que ter competência na nossa organização para fazer o melhor sem ficar chorando mágoas e se lamentando. Eu tenho que ter competência no planejamento e os jogadores precisam se mobilizar", afirmou.
O time do Parque São Jorge disputa sua primeira partida no Campeonato Paulista às 17 horas (de Brasília) do próximo dia 16 de janeiro, um domingo, diante da Portuguesa, como mandante.
"Provavelmente, vocês devem pensar que jogador de futebol ganha muito, mas isso é um grave engano. 96% dos jogadores do Brasil ganham um salário mínimo", afirmou Ronaldo, o atleta mais bem pago do País em vencimentos e ganhos com publicidade. "É uma das classes que menos ganha no Brasil, mas a fama é que todo o jogador é rico", acrescentou o atleta.
Enquanto se prepara para disputar sua última temporada como jogador de futebol, Ronaldo não pensa apenas na própria aposentadoria. Ele planeja montar uma agência para planejar o final da trajetória de outros atletas no futuro e também admite a possibilidade de seguir os passos de ex-jogadores como Michael Platini, atual presidente da Uefa.
"Eu toparia (ser dirigente), mas teria que ser para mandar. Sabemos o quanto é difícil chegar lá em cima e ter o poder. Muitos falam que você busca o interesse próprio, mas eu compraria essa briga, porque é uma classe injustiçada", disse Ronaldo. "Se eu entrar, vou entrar para mudar. Para entrar nesse ramo, tem que entrar forte. No ano que vem, ainda vou ser jogador. Depois, veremos", encerrou.
GAZETA ESPORTIVA

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